Em um dia típico — ou tão típico quanto poderia ser em Wonderland — Alice caminhava distraída por um campo de flores cantantes. As flores sussurravam melodias suaves, que se misturavam com o farfalhar das folhas nas árvores. O chão sob seus pés parecia quase vivo, pulsando com uma energia peculiar que só Wonderland podia ter. Mas o que mais chamava atenção, tanto de Alice quanto das flores que a observavam, eram as botas que ela usava. Elas não eram botas comuns. Eram coloridas, brilhantes, com padrões e tons que mudavam conforme a luz batia nelas. Exclusivas como tudo que Alice parecia tocar em Wonderland.
Alice disse para si mesma: “Essas botas são como um pedaço deste mundo, estranhas e mágicas.” De fato, elas pareciam capturar a essência de Wonderland — inesperadas, vibrantes e únicas. Ela deu uma volta, observando como as cores das botas se misturavam com o ambiente, refletindo as luzes surrealistas que emanavam das árvores e do céu acima. Cada passo que dava parecia criar um rastro de brilho no ar, quase como se as próprias botas a impulsionassem para novas aventuras.
Enquanto andava, de repente avistou algo familiar. Não muito longe, entre as árvores, o Coelho Branco passava correndo apressado. Sempre com seu olhar preocupado, ele verificava seu relógio e murmurava para si mesmo sobre estar atrasado. Sem hesitar, Alice decidiu segui-lo. Já havia aprendido que o Coelho Branco sempre a levava a lugares curiosos. E, mais uma vez, Alice disse: “Sei que seguir o Coelho Branco sempre me reserva surpresas.”
Com suas botas coloridas, Alice começou a correr. E quanto mais rápido ela ia, mais parecia flutuar pelo chão de Wonderland. As flores, antes imóveis, pareciam inclinar-se para observar a menina que corria com passos leves e precisos. O Coelho Branco, sempre à frente, olhava para trás de vez em quando, mas não diminuía o ritmo. Ele pulava por entre as árvores, saltando sobre pequenos riachos e desaparecendo por trás de colinas. Alice, no entanto, não se preocupava em perdê-lo. Ela sabia que suas botas, com suas cores dançantes, fariam parte dessa aventura de forma especial.
Logo adiante, Alice viu uma figura conhecida. Era o Chapeleiro. Ele estava sentado à beira de uma grande mesa repleta de xícaras de chá, mas, dessa vez, sem a habitual companhia do Lebre de Março. Ao ver Alice se aproximar, ele ergueu os olhos e, com seu sorriso enigmático, a cumprimentou. “Ora, ora, veja só quem temos aqui!” Ele se levantou e caminhou em sua direção, seus olhos fixos nas botas brilhantes de Alice. “Essas não são botas comuns, são?”
Alice disse com um sorriso travesso: “Nada em Wonderland é comum, Chapeleiro. Muito menos minhas botas.” Ela deu uma voltinha rápida, e as cores das botas pareciam se intensificar à medida que ela se movia. O Chapeleiro observou o espetáculo com fascínio, e então deu uma gargalhada. “Wonderland sempre encontra maneiras de se expressar, não é mesmo?”
Sem querer perder o Coelho Branco de vista, Alice acenou para o Chapeleiro e retomou sua corrida. Cada passo parecia mais leve do que o anterior, e o terreno de Wonderland parecia moldar-se ao seu redor. Árvores altas davam lugar a clareiras iluminadas por cogumelos que brilhavam como estrelas, e o som de águas correndo acompanhava sua jornada. As botas coloridas de Alice pareciam conhecedoras daquele território mágico, como se pertencessem tanto a Wonderland quanto ela.
Em certo ponto, ao cruzar uma ponte feita de galhos entrelaçados, Alice perdeu de vista o Coelho Branco. O caminho bifurcou-se à frente, e Alice, sem pensar duas vezes, escolheu a trilha à esquerda. Ela não tinha um plano. Em Wonderland, planos eram tão voláteis quanto as nuvens de algodão-doce no céu.
Depois de alguns minutos, Alice parou em uma clareira. Estava sozinha, exceto pelas árvores altas que a cercavam e os animais curiosos que a observavam de longe. Sentou-se sobre uma pedra e olhou para suas botas. As cores agora refletiam o verde suave das folhas acima, e Alice disse: “Cada vez que as uso, parece que faço parte deste lugar.”
Ela sorriu para si mesma. Estava novamente em Wonderland, seguindo o Coelho Branco, deixando-se levar pelas surpresas e pelo inesperado. E enquanto olhava ao redor, suas botas coloridas pareciam contar suas próprias histórias — histórias de aventuras, de passos dados em mundos impossíveis e de caminhos nunca antes trilhados.
E assim, Alice continuou. Suas botas coloridas, como ela, eram parte de Wonderland, guiando-a por um mundo onde o extraordinário sempre encontrava espaço para existir.